sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Mayombe - Pepetela



.
São poucos os escritores da África Meridional conhecidos do grande público. Pepetela (cujo nome verdadeiro é Arthur Maurício Pestana dos Santos) é angolano. Angola, país de colonização portuguesa, conseguiu a independência apenas em 1975. Depois da guerra de libertação, mergulhou num período de guerra civil, em que lutavam de um lado os afiliados ao Movimento pela Libertação de Angola (MPLA), liderado por Agostinho Neto e apoiado pela União Soviética, e de outro os seguidores de Jonas Savimbi, líder da União Nacional pela Libertação Total de Angola (Unita), que contava com o apoio dos Estados Unidos. Essa guerra acabou somente em 2005, com a morte de Savimbi, e o país ainda se encontra arrasado, coberto de minas e carente de infra-estrutura.
.
Em Mayombe, um de seus inúmeros romances, Pepetela conta a história de um grupo guerrilheiro acampado no meio da mata. É gente sem recursos de toda a espécie. Faltam comida, armas, estratégia. A maior parte dos soldados é analfabeta. Muitos não se entendem, pois pertencem a comunidades diferentes que falam línguas diversas. Até hoje, em Angola, há 36 idiomas, além do português.
.
Há problemas de hierarquia. Algumas etnias se consideram superiores às outras, e não aceitam receber ordens de comandantes considerados inferiores do ponto de vista cultural ou genético.
.
A aventura dessa gente, o medo, as superstições, a corrupção, o ambiente político, geográfico e psicológico, compõem uma história de aventura emocionante. Pepetela sabe do que fala. Lutou na guerrilha, como suas personagens. Dá ao leitor o privilégio de conhecer um universo muito particular, pouco divulgado. O da África negra, pobre, abandonada. E de conhecer as raízes de problemas que persistem até os dias atuais.
.
.
http://www.netsaber.com.br/resumos/ver_resumo_c_2325.html
.
____________________
.

Mayombe (1970)


Local
Cabinda


Autor

Sinopse

"O Mayombe começa com um comunicado de guerra. Eu escrevi o comunicado e...o comunicado pareceu-me muito frio, coisa para jornalista, e eu continuei o comunicado de guerra para mim, assim nasceu o livro." - Pepetela.
.
Escrito em 1970/71, em Cabinda e publicado em 1980. Se outras obras têm o ir buscar à história a explicação para problemas diversos, Mayombe conta história. é um livro de construção da história.
.
Pepetela é, com esta obra, um dos primeiros sinais de critica interna no MPLA, ao racismo, corrupção, machismo, isto levou a que vários problemas se levantasse à publicação do livro. O escritor teve que fazer muitas explicações e palestras sobre a obra. Ela foi o primeiro testemunho público e assumido por um militante, de que o MPLA não era perfeito embora tenhamos sempre que ter em conta que é uma crítica feita dentro do limite possível de quem vê as coisas do ponto de vista do participante. Será um livro de história na medida em que é a realidade vivida pelo autor tornada ficção. O único documento escrito que legitima a presença do MPLA em Cabinda é esta obra de Pepetela - diz a história oficial que o MPLA teria mandado os seus melhores guerrilheiros para Cabinda.
.
A publicação da obra tem também a sua história. Pepetela havida dado a obra a Agostinho Neto para que este a lê-se, à semelhança do que havia feito com outros trabalhos seus. Durante muito tempo o próprio autor hesitou em publicar a obra, as razões eram políticas, "será que é útil, a revolução era ainda muito recente... Poderia o livro servir os inimigos?" - Pepetela. Quando se decidiu enfim a publicação da obra, a nível interno do MPLA foi importante o facto de testemunhas terem ouvido Neto dizer que concordava politicamente com o conteúdo de Mayombe.
.
Quanto ao conteúdo de Mayombe em Mayombe temos o traço filosófico do homem como indivíduo e o seu comportamento como guerrilheiro. É a história do guerrilheiro, da guerrilheira, mas sempre dos indivíduos nas suas ideias.
.
Pepetela joga, nesta obra com outro tipo de legados, os culturais. Veja-se a dedicatória do livro: a ogum o prometeu africano - Ogum é Yoruba e foi para o Brasil na rota dos escravos, em Angola não é conhecido. É com estes diversos legados culturais que o autor joga.
.
Mayombe é uma grande epopeia, a épica dos guerrilheiros. Relembra alguns escritores franceses que escreveram sobre a guerrilha da Indochina, especialmente " A condição Humana" de André Malraux.
.
Mayombe é a primeira obra angolana que dessacraliza os heróis.
.
"É uma obra também contra o dogmatismo, o Sem-Medo era um Anarquista, não podia ser mas de facto era. A obra tem já uma série de advertências sobre o partido único mas a grande contribuição do Sem-Medo foi a da religião na política." - Pepetela
.
Publicado em 1980.

.Read more: http://www.portaldaliteratura.com/livros.php?livro=3591#ixzz0cib7VBGb
 .


.

Pepetela nasceu em Benguela, Angola, em 1941.

18
Jun 08
 

«O Mayombe tinha aceitado os golpes dos machados, que nele abriram uma clareira. Clareira invisível do alto, dos aviões que esquadrinhavam a mata, tentando localizar nela a presença dos guerrilheiros.
.
As casas tinham sido levantadas nessa clareira e as árvores, alegremente, formaram uma abóbada de ramos e folhas para as encobrir.
.
Os paus serviram para as paredes. O capim do tecto foi transportado de longe, de perto do Lombe. Um montículo foi lateralmente escavado e tornou-se forno para pão. Os paus mortos das paredes criaram raízes e agarraram-se à terra e as cabanas tornaram-se fortalezas. E os homens, vestidos de verde, tornaram-se verdes como as folhas e castanhos como os troncos colossais.»
.
publicado por pepetela às 07:59
.
http://pepetela.blogs.sapo.pt/1703.html
.
.

Sem comentários: