domingo, 15 de março de 2015

Pablo Neruda - Reflexo

* Pablo Neruda


Se sou amado 

Quanto mais amado 

Mais correspondo ao amor.  


Se sou esquecido 

Devo esquecer também 

Pois amor é feito espelho 

Tem que ter reflexo.



Leia mais: http://www.mensagenscomamor.com/poemas-e-poesias/poesias_sobre_amor_nao_correspondido.htm#ixzz3koIUWcS9

quinta-feira, 5 de março de 2015

Mario Benedetti - Não te rendas

Mario Benedetti

Não te rendas , ainda é tempo 
De se ter objetivos e começar de novo,
Aceitar tuas sombras,
Enterrar teus medos
Soltar o lastro,
Retomar o vôo.

Não te rendas que a vida é isso,
Continuar a viagem,
Perseguir teus sonhos,
Destravar o tempo,
Correr os escombros
E destapar o céu.

Não te rendas , por favor, não cedas,
Ainda que o frio queime,
Ainda que o medo morda,
Ainda que o sol se esconda,
E o vento se cale,
Ainda existe fogo na tua alma.
Ainda existe vida nos teus sonhos.

Porque a vida é tua e teu também o desejo
Porque o tens querido e porque eu te quero
Porque existe o vinho e o amor, é certo.
Porque não existem feridas que o tempo não cure.

Abrir as portas,
Tirar as trancas,
Abandonar as muralhas que te protegeram,

Viver a vida e aceitar o desafio,
Recuperar o sorriso,
Ensaiar um canto,
Baixar a guarda e estender as mãos
Abrir as asas
E tentar de novo
Celebrar a vida e se apossar dos céus.

Não te rendas, por favor, não cedas,
Ainda que o frio te queime,
Ainda que o medo te morda,
Ainda que o sol ponha e se cale o vento,
Ainda existe fogo na tua alma,
Ainda existe vida nos teus sonhos
Porque cada dia é um novo começo,
Porque esta é a hora e o melhor momento
Porque não estás sozinho, porque eu te amo 


segunda-feira, 2 de março de 2015

David Mourão-Ferreira - Aviso de mobilização

David Mourão-Ferreira

Passaram pelo meu nome e eu era um número
– menos que a folha seca de um herbário.
Colheram-no com mãos de zelo e gelo;
escreveram-no, sem mágoa, num postal.

Convite a que morresse… mas por quê?
Convite a que matasse… mas por quem?
Ó vago amanuense, ó apressado
e súbito verdugo, que te ocultas
numa rubrica rápida, ilegível,
que dirás tu do meu e de outros nomes,
que dirás tu de mim e de outros mais,
no Dia do Juízo já tão próximo
– que dirás tu de nós, se nem tremeu,
na rápida rubrica, a tua mão?
Bem sei que a tua mão só executa;
mas para além do ombro a ti pertences.
Bem puderas chorar, ter hesitado…
-A mancha de uma lágrima bastara
para dar um sentido a esta morte
a que a tua indiferença nos convoca!

David Mourão-Ferreira, 1964

Frei António das Chagas - À Vaidade do Mundo

* Frei António das Chagas


É a vaidade, Fábio, desta vida 
Rosa que na manhã lisonjeada 
Púrpuras mil com ambição coroada 
Airosa rompe, arrasta presumida; 

É planta que de Abril favorecida 
Por mares de soberba desatada, 
Florida galera empavezada, 
Surca ufana, navega destemida; 

É nau, enfim, que em breve ligeireza, 
Com presunção de fénix generosa, 
Galhardias apresta, alentos preza. 

Mas ser planta, rosa e nau vistosa 
De que importa, se aguarda sem defesa 
Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa? 

Frei António das Chagas, in 'Antologia Poética'